Apenas
uma reflexão...
Tendo lido e ouvido pronunciamento do médium Divaldo Pereira Franco a
respeito das respeitáveis Entidades Espirituais que, abnegadamente, trabalham
no Movimento Umbandista, não pude deixar de refletir e escrever humildemente algumas
poucas e simples palavras a respeito.
Embora admiremos e respeitemos a gama de conhecimentos e estudos
de médiuns como Divaldo Franco, tanto que lemos, estudamos e recomendamos aos
nossos médiuns e frequentadores os livros por ele psicografados, com
mensagens e ensinamentos de amados Espíritos, também sábios, com grande
ascensão evolutiva, mas que sabemos não perfeitos ou donos da verdade, crença
que nos levaria ao fanatismo ou endeusamento de espíritos e médiuns que não são
deuses, apenas irmãos, uns que já ultrapassaram as portas do túmulo com uma
certa gama de esclarecimento e evolução, outros sendo condutores e intérpretes
de suas mensagens para o plano físico. Não podemos, contudo, como nesse
caso e em outros deixar de acusar o profundo desconhecimento desses grandes
médiuns a respeito da doutrina Umbandista, especialmente no que se trata da
trilogia das formas fluídicas. Ora, um Preto Velho, um Caboclo, uma Criança, ao
incorporarem em seus médiuns, não significa tratar-se de um espírito que foi ou
ainda se considera um negro escravo ou índio ignorante, como afirma Divaldo,
tratando-se apenas de uma roupagem perispiritual por esses espíritos assumidas,
no ato da incorporação, como uma mensagem visual, ritualística, litúrgica, numa
religião brasileira, que fala aos humildes e simples de coração.
O Caboclo passa a mensagem de segurança, doutrina e simplicidade, o
Preto Velho a de humildade e sabedoria, a Criança a de pureza de coração e
alegria de viver sob a Lei Divina.
A Religião de Umbanda é uma religião brasileira e, como tal, procura
não ficar apenas arraigada ao pensamento, mística e comportamentos mental e
emocional eivados da cultura europeia com ocorre ainda no Movimento Espírita
Kardecista. A Umbanda é uma religião brasileira que foi definida pelo seu
implantador na crosta como “a manifestação do espírito para a
caridade”. Ora, essa caridade é revestida pelo clamor em relação ao
acolhimento do pobre e deserdado, portanto dos excluídos da sociedade.
Quando um espírito de escol, voltando-se para o Movimento Umbandista
vem, junto a seu médium, trabalhar assumindo uma roupagem perispiritual de
Caboclo (simplicidade e doutrina), Preto Velho (Humildade e Sabedoria) ou
Criança (Pureza de Coração e Alegria de Viver sob a Lei de Deus), além da mensagem
simples e evangélica de simplicidade, humildade e pureza, conclama aos cristãos
para abrirem seus corações para a inclusão dos grupos sociais brasileiros
largados ao abandono e descaso.
Vejamos que o Caboclo Índio vem nos falar do indígena, verdadeiros
habitantes e donos destas terras brasileiras hoje relegados ao abandono e
chamados de “ignorantes”, sem a mínima misericórdia ou respeito a sua cultura e
suas crenças. O Caboclo Boiadeiro nos vem chamar a atenção para a inclusão do
homem do campo e dos pampas. O Caboclo Marujo busca incluir o pescador e
marinheiro à comunidade cristã. Por fim os Caboclos Baianos vêm falar da
inclusão dos nordestinos, especialmente aqueles que deixando suas terras vêm
tentar a vida em cidades grandes. São nossos porteiros, lavadores de carros,
etc...
Os Pretos Velhos, além da mensagem de humildade e sabedoria (velho,
ancião, experiente pela estrada e poeira do tempo), vem ainda nos falar da
inclusão do negro e do velho ainda banidos de uma sociedade que guarda na
sua essência, ainda, a sombra maléfica do preconceito e do racismo.
A Criança, cuja mensagem evangélica da confiança em Deus e busca da
pureza de coração nos remete, também, à inclusão da criança abandonada nas
ruas, especialmente as crianças negras e indígenas, cujas oportunidades de
educação e crescimento são boicotadas em prol das classes dominantes.
Sem falar na lembrança aos brasileiros espíritas cristãos quanto ao
Carma coletivo, dívidas essas ainda hoje contraídas ao montão por todos nós, em
relação à discriminação em relação ao negro e ao idoso, pobre e
abandonado; ao indígena que até hoje é banido e destruído, quando
foram os verdadeiros donos e habitantes primevos das terras
brasileiras, ao sertanejo, ao pescador e marujo, ao
nordestino imigrante para as capitais em busca de crescimento material e
dignidade de vida; e às crianças que vivem ao abandono nas ruas, ou sendo
vitimas de abusos de toda ordem. É um grito de alerta quanto às injustiças
sociais que são, na verdade, o reflexo manifesto da falta de espiritualidade
evangélica e crescimento evolutivo das consciências.
Não, querido Divaldo, esses espíritos que trabalham na Umbanda não são
espíritos egressos de encarnações ainda voltadas a ignorância e a patamares
evolutivos atrasados. São espírito de escol, quiçá de seu conhecimento, que
acobertados pelo manto da humildade e verdadeira caridade se voltam ao
Movimento Umbandista para falar, na língua do povo, do pobre, do sofredor e
abandonado, da grandeza do amor de Deus e da libertação que o Evangelho vivido
pode nos trazer. Eles vêm socorrer e orientar. O Caboclo das Sete
Encruzilhadas, implantador da Umbanda no Brasil, Espírito que em encarnações
passada foi o insigne Padre português Gabriel Malagrida, dizia que
a “Umbanda deveria ser como a iconografia de Nossa Senhora da Piedade que,
acolhe em seu regaço, o pobre mutilado, sofredor, abandonado”. Isso nos
faz lembrar de Jesus enviando seus discípulos ao mundo e dizendo: “Por
onde andares anunciai o Rei no de Deus. Curai os enfermos, ressuscitai os
mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de
graça dai!” (Mt. 10:7-8).
É, caro irmãozinho Divaldo, é necessária uma dosagem grande de
humildade e acolhimento da grandeza de Deus e reconhecimento consciente da
nossa pequenez para entender isto, e todos nós somos meros aprendizes desta
humildade que nos torna crianças diante do amor e grandeza de Deus. O Mestre
ainda diz, orando ao Pai: “... Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da
terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes
aos pequenos”. (Mt. 11:25).
Os Guias de Umbanda sempre nos alertam que “É Jesus quem cura, é Jesus
quem consola, é Jesus que orienta. Nós, guias e médiuns, somos meros
instrumentos de Sua misericórdia.”
É importante sabermos que a Umbanda é uma religião séria, com sua
doutrina profundamente cristã, pois o Evangelho é o ar que se respira na
Umbanda; é espírita, pois a Codificação Kardequiana é a base, o chão
sobre o qual se apoia sua doutrina universalista. Lembremo-nos que assim como
Jesus não fundou nenhuma religião, mas como Filho de Deus, Tutor do nosso
Planeta, encarnou para nos dar a mensagem do amor do Pai e ensinar o caminho de
ascensão espiritual (Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida), portanto a sua
mensagem não é propriedade de ninguém ou de nenhum grupo religioso, mas tem
caráter de universalidade, também Allan Kardec não fundou religião
institucional nenhuma, ele, como afirma em Obras Póstumas, apenas codificou as
mensagens dos espíritos em prol do avanço intelectual, científico e espiritual
da humanidade. O que vemos é repetir-se o mesmo filme tantas vezes passado
na história da humanidade, onde religiões e seus adeptos, Mestres, considerados
donos da verdade, afirmando e conduzindo as pessoas pelos caminhos atávicos de
suas vidas pregressas ainda não devidamente superadas.
A Umbanda é um Movimento Religioso que foi fundado, como todas as
outras religiões, com o fim de ajudar os encarnados e desencarnados a subirem a
escada do progresso. Ela não se acredita única nem a verdadeira, mas apenas
mais uma a oferecer às pessoas caminho de paz e evolução. A Umbanda não crê que
alguma religião salve ninguém, ela acredita que a religiosidade, ou seja, a
vivência religiosa, essa sim liberta e salva. Se encontramos umbandistas e
templos ditos umbandistas usando mal o seu nome, trabalhando com esse nome
sagrado chafurdados na ignorância, na magia negra, na superstição e na crendice
infantil, não quer dizer que ela, a Umbanda, seja religião de ignorantes e feiticeiros. Não,
assim como Jesus não tem culpa de todas as asneiras, ignorâncias e dores que em
seu nome os humanos já realizaram e realizam, também a Umbanda não tem culpa de
todas as perversões e infantilidades que realizam em seu nome. A Umbanda não é
um grupo de pessoas girando em torno do nada ou de preceitos vazios,
fantasiosos e ignorantes.
Quando o magnânimo espírito do Padre Gabriel Malagrida, sob a roupagem
perispiritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas, iniciou o Movimento Umbandista
no Brasil, em 1908, ele foi claro ao afirmar: “Estou fundando uma nova religião
brasileira, cuja base é o Evangelho e o Mentor Maior, o Cristo” “Não matar, não
cobrar, vestir o branco, evangelizar e utilizar as energias da natureza para o
bem”.
Tenho certeza que nosso caro Divaldo desconhece todas essas coisas, do
contrário não falaria como falou, desrespeitando, a meu ver, uma religião amada
e praticada por tantos brasileiros, através da qual os Espíritos Esclarecidos e
Iluminados vêm, na sua inconfundível e necessária HUMILDADE, consolar os
tristes, orientar os perdidos no caminhos, tratar os doentes do espírito. Desse
tipo de ataque, fruto do desconhecimento, já estamos cansados, sejamos
Umbandistas ou Kardecistas, de sofrer por parte dos nossos irmão pentecostais.
No caso atual só muda a alcunha recebida pelos abnegados benfeitores
espirituais: de demônios para espíritos ignorantes.
Como sempre afirmam os Mentores da Umbanda, ao desencarnarmos todos nós
teremos grandes e gratas surpresas, pois veremos como o Preto Velho ou o
Caboclo que pisa na Cabana simples e cristã da Umbanda, não passam dos mesmos
espíritos que se apresentam nas cultas e radiosas mesas dos Centros
Kardecistas. Trata-se apenas de uma roupagem perispiritual, pois, como
afirma Divaldo acertadamente, o espírito desencarnado não possui mais corpo
físico e forma definida, pois o perispírito é formado de matéria plasmável e
fluídica. O Doutor, a Madre, o Mestre ou os respeitáveis espíritos que foram
poetas, cientistas e etc..., são os mesmos pretos velhos e caboclos da umbanda,
todos nos gritando e chamando a nossa atenção para a necessária humildade,
simplicidade e verdadeira sabedoria, pois esses títulos e seus cargos e funções
na encarnação pretérita nada são, pois o valor está no interior, na simplicidade,
na humildade, no amor sem ostentação e trombetas, pois “o reino de Deus está
dentro de vós”, e somente quando trabalharmos o Reino de Deus dentro de nós
poderemos compreender e saborear a mensagem de Jesus.
Foi Ele que orou em ação de graças ao Pai, dizendo “Te dou graças Pai,
Senhor do céu e da Terra, pois escondestes essas coisas aos sábios e grandes
deste mundo, e a revelastes aos pequeninos e humildes”.
A Umbanda, como dizia o seu fundador, deve ser como uma Casa que
abriga, consola, dando sombra e guarida aos caminhantes na romagem
encarnatória. Essa Casa tem como chão, base e segurança intelectual
esclarecedora a Codificação Kardequiana, que como já o disse acima, não é
propriedade do respeitável Movimento Espírita; tem como paredes acolhedoras os
ensinamentos e conhecimentos fornecidos pela cultura brasileira fundada no
ameríndio, afro e oriental; e tem como telhado que cobre, dá sombra e frescor o
cristianismo preconizado no Evangelho Redentor.
Isto é a Umbanda, repetindo o que disse o Mestre: “Quem tem olhos de
ver que veja, pois existem muitos que têm olhos, mas não enxergam”.
É tão diferente essa referência de Divaldo à Umbanda daquelas dada por
Chico Xavier ao ser perguntado sobre a mesma. Como ele trouxe consolo, clareza
e segurança de caminhada aos adeptos do movimento umbandista, chamando-a de
religião respeitável e chamando a atenção para a necessidade de mais e mais
evangelização.
Não sei quem disse ao nosso querido Divaldo que a Umbanda existe para
resolver problemas materiais? A função da Umbanda é evangelizar. Como diz um
insigne Mentor Espiritual da Umbanda, o Caboclo Ventania de Aruanda: “A
função principal da Umbanda Espírita Cristã é iluminar corações e resgatar
almas”. Se ela ajuda energeticamente nessas soluções é apenas no sentido
de consolar e abrir caminhos para a reforma intima do irmão carente e
necessitado de ajuda, não para se postar como quebra galho de ninguém, ou
instrumento utilitarista e mistificador “substituindo os adivinhos e
feiticeiros”, pois tudo, como dizem os Caboclos e Pretos Velhos, está na
dependência do programa Cármico ou do merecimento das pessoas. Mas, a essência,
a verdadeira solução e cura dos males do espírito e do físico está sempre
na “Evangelhoterapia”, ou seja, na terapia da vivência evangélica pela mudança
de valores e comportamento.
Quanto a ser ela resolvedora de problemas que o Espiritismo não
pode resolver, que me parece o ofendeu profundamente, já ouvi sobre isso, mas
saído de dentro dos próprios Centros Kardecistas, o que é pura ilusão, pois o
que se faz lá, se faz cá, o que está lá é o mesmo que está cá, podem mudar as
formas, mas o que são as formas diante do espírito e da misericórdia de Deus.
Será sempre o uso e aplicação dos fluidos, manipulados e retirados dos próprios
médiuns ou da natureza para refazimento dos caminhantes na estrada da evolução.
A realidade é a mesma, seja da umbanda ou do espiritismo kardecista, o que muda
é a janela pela qual se olha esta mesma realidade consoladora.
Caro Divaldo e irmãos do movimento kardecista, como vocês, nós também
bebemos na fonte de esclarecimentos dos Espíritos da Codificação da Doutrina
Espírita e, portanto, sabemos como, e sabem e nos ensinam os Caboclos e Pretos
Velhosaquilo que preconiza o Espírito de Verdade no Livro dos Médiuns capítulo
27, item 303: “Os espíritos vêm vos instruir e vos guiar no caminho do bem, e
não no das honrarias e da fortuna, ou para servir às vossas paixões mesquinhas.
Se não lhes pedisse jamais nada de fútil ou que esteja fora das suas
atribuições, não se daria nenhuma presa aos Espíritos enganadores; de onde
deveis concluir que aquele que é mistificado não tem senão o que merece. O
papel dos Espíritos não é o vos esclarecer sobre as coisas desse mundo, mas o
de vos guiar com segurança no que vos pode ser útil para o outro. Quando
vos falam das coisas desse mundo, é porque julgam necessários, mas não a vosso
pedido. Se vedes nos Espíritos os substitutos dos adivinhos e dos feiticeiros,
então é que sereis enganados.” (grifo nosso)
Não se deve confundir a Umbanda com mistificadores, mercadores de
soluções materiais, que, às vezes, em seu nome, praticam atos e rituais que
nada têm a ver com a Umbanda, mesmo que usando o seu nome, da mesma forma que
não podemos confundir o Movimento Espírita Kardecista com tantos fantasiosos e
pretensos médiuns que usam o seu nome para apregoar crendices e tirarem
proveitos financeiros e políticos.
Todas as religiões têm o mesmo fim, religar o homem a Deus, a criatura
ao seu Criador, sua fonte e finalidade. Por isso todas elas, se vivenciadas com
honestidade e verdade, são uteis e boas. Religião nenhuma tem a verdade, ou são
únicas, são apenas instrumentos nas mãos do operário para construir a sua
evolução. E cada espírito, encarnado ou não, tem o direito, pela sua
afinidade, de trabalhar sua religação com o Pai por meio de uma dessas formas
de vivências religiosas. Diz um amigo espiritual que “para cada pé tem um
sapato que lhe cabe”.
Na verdade, como Umbandista Espírita Cristão, fico triste com esse
depoimento do caro irmão Divaldo, mas também compreendo, por tratar-se de
desinformação e natural imperfeição que ainda é nota preponderante em todos
nós. Continuamos, tenha certeza, Divaldo, a estudar as obras kardequianas, a
estudar as mensagens e ensinamentos desses grandes irmãos benfeitores que,
através da sua mediunidade, nos trazem a riqueza do saber, principalmente
Joanna de Angelis e Manoel Filomeno, que no nosso Centro “de Umbanda”,
são autores recomendados e quase obrigatórios para os médiuns da Desobsessão e
Psicofonia e Tratamentos Espirituais, bem como para o público em geral, pois
tenho certeza que eles têm outra visão, apesar da normal dificuldade na
recepção mediúnica. A mediunidade supõe a natureza, nos ensina Kardec.
Lembro apenas que para nós umbandistas a “Umbanda é paz e amor. Um
mundo cheio de Luz. É força que nos dá vida, E à grandeza nos conduz”.
Pai Valdo (Sacerdote Dirigente do Templo Espiritualista do Cruzeiro da
Luz)