sábado, 11 de janeiro de 2014

REFLEXÃO SOBRE A RELIGIÃO UMBANDA


Apenas uma reflexão...

Tendo lido e ouvido pronunciamento do médium Divaldo Pereira Franco a respeito das respeitáveis Entidades Espirituais que, abnegadamente, trabalham no Movimento Umbandista, não pude deixar de refletir e escrever humildemente algumas poucas e simples palavras a respeito.

 Embora admiremos e respeitemos a gama de conhecimentos e estudos de médiuns como Divaldo Franco, tanto que lemos, estudamos e recomendamos aos nossos médiuns e frequentadores os livros por ele psicografados, com mensagens  e ensinamentos de amados Espíritos, também sábios, com grande ascensão evolutiva, mas que sabemos não perfeitos ou donos da verdade, crença que nos levaria ao fanatismo ou endeusamento de espíritos e médiuns que não são deuses, apenas irmãos, uns que já ultrapassaram as portas do túmulo com uma certa gama de esclarecimento e evolução, outros sendo condutores e intérpretes de suas mensagens para o plano físico. Não podemos, contudo, como nesse caso e em outros deixar de acusar o profundo desconhecimento desses grandes médiuns a respeito da doutrina Umbandista, especialmente no que se trata da trilogia das formas fluídicas. Ora, um Preto Velho, um Caboclo, uma Criança, ao incorporarem em seus médiuns, não significa tratar-se de um espírito que foi ou ainda se considera um negro escravo ou índio ignorante, como afirma Divaldo, tratando-se apenas de uma roupagem perispiritual por esses espíritos assumidas, no ato da incorporação, como uma mensagem visual, ritualística, litúrgica, numa religião brasileira, que fala aos humildes e simples de coração.

O Caboclo passa a mensagem de segurança, doutrina e simplicidade, o Preto Velho a de humildade e sabedoria, a Criança a de pureza de coração e alegria de viver sob a Lei Divina.

A Religião de Umbanda é uma religião brasileira e, como tal, procura não ficar apenas arraigada ao pensamento, mística e comportamentos mental e emocional eivados da cultura europeia com ocorre ainda no Movimento Espírita Kardecista. A Umbanda é uma religião brasileira que foi definida pelo seu implantador na crosta como “a manifestação do espírito para a caridade”.  Ora, essa caridade é revestida pelo clamor em relação ao acolhimento do pobre e deserdado, portanto dos excluídos da sociedade.

Quando um espírito de escol, voltando-se para o Movimento Umbandista vem, junto a seu médium, trabalhar assumindo uma roupagem perispiritual de Caboclo (simplicidade e doutrina), Preto Velho (Humildade e Sabedoria) ou Criança (Pureza de Coração e Alegria de Viver sob a Lei de Deus), além da mensagem simples e evangélica de simplicidade, humildade e pureza, conclama aos cristãos para abrirem seus corações para a inclusão dos grupos sociais brasileiros largados ao abandono e descaso.

Vejamos que o Caboclo Índio vem nos falar do indígena, verdadeiros habitantes e donos destas terras brasileiras hoje relegados ao abandono e chamados de “ignorantes”, sem a mínima misericórdia ou respeito a sua cultura e suas crenças. O Caboclo Boiadeiro nos vem chamar a atenção para a inclusão do homem do campo e dos pampas. O Caboclo Marujo busca incluir o pescador e marinheiro à comunidade cristã. Por fim os Caboclos Baianos vêm falar da inclusão dos nordestinos, especialmente aqueles que deixando suas terras vêm tentar a vida em cidades grandes. São nossos porteiros, lavadores de carros, etc...

Os Pretos Velhos, além da mensagem de humildade e sabedoria (velho, ancião, experiente pela estrada e poeira do tempo), vem ainda nos falar da inclusão do negro e do velho ainda banidos de uma sociedade  que guarda na sua essência, ainda, a sombra maléfica do preconceito e do racismo.

A Criança, cuja mensagem evangélica da confiança em Deus e busca da pureza de coração nos remete, também, à inclusão da criança abandonada nas ruas, especialmente as crianças negras e indígenas, cujas oportunidades de educação e crescimento são boicotadas em prol das classes dominantes.

Sem falar na lembrança aos brasileiros espíritas cristãos quanto ao Carma coletivo, dívidas essas ainda hoje contraídas ao montão por todos nós, em relação à discriminação em relação ao negro e ao idoso, pobre e abandonado;  ao indígena que até hoje é banido e  destruído, quando foram os verdadeiros donos e habitantes primevos das terras brasileiras,   ao  sertanejo, ao pescador e marujo, ao nordestino imigrante para as capitais em busca de crescimento material e dignidade de vida; e às crianças que vivem ao abandono nas ruas, ou sendo vitimas de abusos de toda ordem. É um grito de alerta quanto às injustiças sociais que são, na verdade, o reflexo manifesto da falta de espiritualidade evangélica e crescimento evolutivo das consciências.

Não, querido Divaldo, esses espíritos que trabalham na Umbanda não são espíritos egressos de encarnações ainda voltadas a ignorância e a patamares evolutivos atrasados. São espírito de escol, quiçá de seu conhecimento, que acobertados pelo manto da humildade e verdadeira caridade se voltam ao Movimento Umbandista para falar, na língua do povo, do pobre, do sofredor e abandonado, da grandeza do amor de Deus e da libertação que o Evangelho vivido pode nos trazer. Eles vêm socorrer e orientar. O Caboclo das Sete Encruzilhadas, implantador da Umbanda no Brasil, Espírito que em encarnações passada foi o insigne Padre português Gabriel Malagrida,  dizia que a “Umbanda deveria ser como a iconografia de Nossa Senhora da Piedade que, acolhe em seu regaço, o pobre mutilado, sofredor, abandonado”. Isso nos faz lembrar de Jesus enviando seus discípulos ao mundo e dizendo: “Por onde andares anunciai o Rei no de Deus. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. Recebestes de graça, de graça dai!” (Mt. 10:7-8).

É, caro irmãozinho Divaldo, é necessária uma dosagem grande de humildade e acolhimento da grandeza de Deus e reconhecimento consciente da nossa pequenez para entender isto, e todos nós somos meros aprendizes desta humildade que nos torna crianças diante do amor e grandeza de Deus. O Mestre ainda diz, orando ao Pai: “... Eu te bendigo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequenos”. (Mt. 11:25).

Os Guias de Umbanda sempre nos alertam que “É Jesus quem cura, é Jesus quem consola, é Jesus que orienta. Nós, guias e médiuns, somos meros instrumentos de Sua misericórdia.”

É importante sabermos que a Umbanda é uma religião séria, com sua doutrina profundamente cristã, pois o Evangelho é o ar que se respira na Umbanda;  é espírita, pois a Codificação Kardequiana é a base, o chão sobre o qual se apoia sua doutrina universalista. Lembremo-nos que assim como Jesus não fundou nenhuma religião, mas como Filho de Deus, Tutor do nosso Planeta, encarnou para nos dar a mensagem do amor do Pai e ensinar o caminho de ascensão espiritual (Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida), portanto a sua mensagem não é propriedade de ninguém ou de nenhum grupo religioso, mas tem caráter de universalidade, também Allan Kardec não fundou religião institucional nenhuma, ele, como afirma em Obras Póstumas, apenas codificou as mensagens dos espíritos em prol do avanço intelectual, científico e espiritual da humanidade. O que vemos é repetir-se o mesmo filme tantas vezes passado na história da humanidade, onde religiões e seus adeptos, Mestres, considerados donos da verdade, afirmando e conduzindo as pessoas pelos caminhos atávicos de suas vidas pregressas ainda não devidamente superadas.

A Umbanda é um Movimento Religioso que foi fundado, como todas as outras religiões, com o fim de ajudar os encarnados e desencarnados a subirem a escada do progresso. Ela não se acredita única nem a verdadeira, mas apenas mais uma a oferecer às pessoas caminho de paz e evolução. A Umbanda não crê que alguma religião salve ninguém, ela acredita que a religiosidade, ou seja, a vivência religiosa, essa sim liberta e salva. Se encontramos umbandistas e templos ditos umbandistas usando mal o seu nome, trabalhando com esse nome sagrado chafurdados na ignorância, na magia negra, na superstição e na crendice infantil, não quer dizer que ela, a Umbanda, seja religião de ignorantes e feiticeiros. Não, assim como Jesus não tem culpa de todas as asneiras, ignorâncias e dores que em seu nome os humanos já realizaram e realizam, também a Umbanda não tem culpa de todas as perversões e infantilidades que realizam em seu nome. A Umbanda não é um grupo de pessoas girando em torno do nada ou de preceitos vazios, fantasiosos e ignorantes.

Quando o magnânimo espírito do Padre Gabriel Malagrida, sob a roupagem perispiritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas, iniciou o Movimento Umbandista no Brasil, em 1908, ele foi claro ao afirmar: “Estou fundando uma nova religião brasileira, cuja base é o Evangelho e o Mentor Maior, o Cristo” “Não matar, não cobrar, vestir o branco, evangelizar e utilizar as energias da natureza para o bem”.

Tenho certeza que nosso caro Divaldo desconhece todas essas coisas, do contrário não falaria como falou, desrespeitando, a meu ver, uma religião amada e praticada por tantos brasileiros, através da qual os Espíritos Esclarecidos e Iluminados vêm, na sua inconfundível e  necessária HUMILDADE, consolar os tristes, orientar os perdidos no caminhos, tratar os doentes do espírito. Desse tipo de ataque, fruto do desconhecimento, já estamos cansados, sejamos Umbandistas ou Kardecistas, de sofrer por parte dos nossos irmão pentecostais.  No caso atual só muda a alcunha recebida pelos abnegados benfeitores espirituais: de demônios para espíritos ignorantes.

Como sempre afirmam os Mentores da Umbanda, ao desencarnarmos todos nós teremos grandes e gratas surpresas, pois veremos como o Preto Velho ou o Caboclo que pisa na Cabana simples e cristã da Umbanda, não passam dos mesmos espíritos que se apresentam nas cultas e radiosas mesas dos Centros Kardecistas. Trata-se apenas de uma roupagem perispiritual, pois, como afirma Divaldo acertadamente, o espírito desencarnado não possui mais corpo físico e forma definida, pois o perispírito é formado de matéria plasmável e fluídica. O Doutor, a Madre, o Mestre ou os respeitáveis espíritos que foram poetas, cientistas e etc..., são os mesmos pretos velhos e caboclos da umbanda, todos nos gritando e chamando a nossa atenção para a necessária humildade, simplicidade e verdadeira sabedoria, pois esses títulos e seus cargos e funções na encarnação pretérita nada são, pois o valor está no interior, na simplicidade, na humildade, no amor sem ostentação e trombetas, pois “o reino de Deus está dentro de vós”, e somente quando trabalharmos o Reino de Deus dentro de nós poderemos compreender e saborear a mensagem de Jesus.

Foi Ele que orou em ação de graças ao Pai, dizendo “Te dou graças Pai, Senhor do céu e da Terra, pois escondestes essas coisas aos sábios e grandes deste mundo, e a revelastes aos pequeninos e humildes”.

 A Umbanda, como dizia o seu fundador, deve ser como uma Casa que abriga, consola, dando sombra e  guarida aos caminhantes na romagem encarnatória. Essa Casa tem como chão, base e segurança  intelectual esclarecedora a Codificação Kardequiana, que como já o disse acima, não é propriedade do respeitável Movimento Espírita; tem como paredes acolhedoras os ensinamentos e conhecimentos fornecidos pela cultura brasileira fundada no ameríndio, afro e oriental; e tem como telhado que cobre, dá sombra e frescor o cristianismo preconizado no Evangelho Redentor.

Isto é a Umbanda, repetindo o que disse o Mestre: “Quem tem olhos de ver que veja, pois existem muitos que têm olhos, mas não enxergam”.

É tão diferente essa referência de Divaldo à Umbanda daquelas dada por Chico Xavier ao ser perguntado sobre a mesma. Como ele trouxe consolo, clareza e segurança de caminhada aos adeptos do movimento umbandista, chamando-a de religião respeitável e chamando a atenção para a necessidade de mais e mais evangelização.

Não sei quem disse ao nosso querido Divaldo que a Umbanda existe para resolver problemas materiais? A função da Umbanda é evangelizar. Como diz um insigne Mentor Espiritual da Umbanda, o Caboclo Ventania de Aruanda: “A função principal da Umbanda Espírita Cristã é iluminar corações e resgatar almas”. Se ela ajuda energeticamente nessas soluções é apenas no sentido de consolar e abrir caminhos para a reforma intima do irmão carente e necessitado de ajuda, não para se postar como quebra galho de ninguém, ou instrumento utilitarista e mistificador “substituindo os adivinhos e feiticeiros”, pois tudo, como dizem os Caboclos e Pretos Velhos, está na dependência do programa Cármico ou do merecimento das pessoas. Mas, a essência, a verdadeira solução  e cura dos males do espírito e do físico está sempre na “Evangelhoterapia”, ou seja, na terapia da vivência evangélica pela mudança de valores e comportamento.

Quanto a  ser ela resolvedora de problemas que o Espiritismo não pode resolver, que me parece o ofendeu profundamente, já ouvi sobre isso, mas saído de dentro dos próprios Centros Kardecistas, o que é pura ilusão, pois o que se faz lá, se faz cá, o que está lá é o mesmo que está cá, podem mudar as formas, mas o que são as formas diante do espírito e da misericórdia de Deus. Será sempre o uso e aplicação dos fluidos, manipulados e retirados dos próprios médiuns ou da natureza para refazimento dos caminhantes na estrada da evolução. A realidade é a mesma, seja da umbanda ou do espiritismo kardecista, o que muda é a janela pela qual se olha esta mesma realidade consoladora.

Caro Divaldo e irmãos do movimento kardecista, como vocês, nós também bebemos na fonte de esclarecimentos dos Espíritos da Codificação da Doutrina Espírita e, portanto, sabemos como, e sabem e nos ensinam os Caboclos e Pretos Velhosaquilo que preconiza o Espírito de Verdade no Livro dos Médiuns capítulo 27, item 303: “Os espíritos vêm vos instruir e vos guiar no caminho do bem, e não no das honrarias e da fortuna, ou para servir às vossas paixões mesquinhas. Se não lhes pedisse jamais nada de fútil ou que esteja fora das suas atribuições, não se daria nenhuma presa aos Espíritos enganadores; de onde deveis concluir que aquele que é mistificado não tem senão o que merece. O papel dos Espíritos não é o vos esclarecer sobre as coisas desse mundo, mas o de vos guiar com segurança no que vos pode ser útil para o outro. Quando vos falam das coisas desse mundo, é porque julgam necessários, mas não a vosso pedido. Se vedes nos Espíritos os substitutos dos adivinhos e dos feiticeiros, então é que sereis enganados.” (grifo nosso)

Não se deve confundir a Umbanda com mistificadores, mercadores de soluções materiais, que, às vezes, em seu nome, praticam atos e rituais que nada têm a ver com a Umbanda, mesmo que usando o seu nome, da mesma forma que não podemos confundir o Movimento Espírita Kardecista com tantos fantasiosos e pretensos médiuns que usam o seu nome para apregoar crendices e tirarem proveitos financeiros e políticos.

Todas as religiões têm o mesmo fim, religar o homem a Deus, a criatura ao seu Criador, sua fonte e finalidade. Por isso todas elas, se vivenciadas com honestidade e verdade, são uteis e boas. Religião nenhuma tem a verdade, ou são únicas, são apenas instrumentos nas mãos do operário para construir a sua evolução. E cada espírito, encarnado ou não, tem o direito, pela sua afinidade, de trabalhar sua religação com o Pai por meio de uma dessas formas de vivências religiosas. Diz um amigo espiritual que “para cada pé tem um sapato que lhe cabe”.

Na verdade, como Umbandista Espírita Cristão, fico triste com esse depoimento do caro irmão Divaldo, mas também compreendo, por tratar-se de desinformação e natural imperfeição que ainda é nota preponderante em todos nós. Continuamos, tenha certeza, Divaldo, a estudar as obras kardequianas, a estudar as mensagens e ensinamentos desses grandes irmãos benfeitores que, através da sua mediunidade, nos trazem a riqueza do saber, principalmente Joanna de Angelis e Manoel  Filomeno, que no nosso Centro “de Umbanda”, são autores recomendados e quase obrigatórios para os médiuns da Desobsessão e Psicofonia e Tratamentos Espirituais, bem como para o público em geral, pois tenho certeza que eles têm outra visão, apesar da normal dificuldade na recepção mediúnica. A mediunidade supõe a natureza, nos ensina Kardec.

Lembro apenas que para nós umbandistas a “Umbanda é paz e amor. Um mundo cheio de Luz. É força que nos dá vida, E à grandeza nos conduz”.

Pai Valdo (Sacerdote Dirigente do Templo Espiritualista do Cruzeiro da Luz)


Publicado no blog do Grupo de Umbanda Triângulo da Fraternidade

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