A
indulgência é esse sentimento doce e fraternal que todo homem deve
alimentar para com seus irmãos, mas do qual bem poucos fazem uso. A
indulgência não vê os defeitos de outrem, ou, se os vê, evita
falar deles, divulgá-los. Ao contrário, oculta-os, a fim de que se
não tornem conhecidos senão dela unicamente. E, se a malevolência
os descobre, tem sempre pronta uma escusa para eles, escusa
plausível, séria, não das que, com aparência de atenuar a falta,
mais a evidenciam com pérfida intenção. A indulgência jamais se
ocupa com os maus atos de outrem, a menos que seja para prestar um
serviço.
Mas,
mesmo neste caso, tem o cuidado de os atenuar tanto quanto possível.
Não faz observações chocantes, não tem nos lábios censuras.
Apenas conselhos e, as mais das vezes, velados.
Ao
fazer uma crítica qualquer, ela sempre irá pensar antes: que
consequência se há de tirar destas palavras?
Homens!
Quando será que julgareis os vossos próprios corações, os vossos
próprios atos, sem vos ocupardes com o que fazem vossos irmãos?
Quando
só tereis olhares severos sobre vós mesmos?
Sede
severos para convosco, indulgentes para com os outros. Lembrai-vos de
que, talvez, tenhais cometido faltas mais graves. Sede indulgentes,
meus amigos, porquanto a indulgência atrai, acalma, ergue, ao passo
que o rigor desanima, afasta e irrita. Eis mais uma virtude
fundamental para aqueles de nós que desejamos viver a Nova Era, a
era do bem.
A
indulgência não se entende por conivência com a coisa errada, de
forma alguma, mas, de uma forma benevolente, de tratar a alma
equivocada. Nossa severidade excessiva com os outros pouco resolve.
E, pelo contrário, esta ferocidade em nosso julgamento só nos tem
trazido prejuízos morais. Quase sempre nossa crítica, nossa
condenação, não visa o bem do outro, mas sim uma satisfação
desequilibrada em simplesmente falar mal, ou condenar. Mecanismo
psicológico de projeção, muitas vezes nos mostra no outro aquilo
que detestamos em nós, e como fuga desastrosa, ao acusar, imaginamos
que podemos nos livrar do mal intrínseco à nossa alma enferma.
Acusar
por acusar nunca nos trará o bem que desejamos, a paz que anelamos
tanto. A maledicência é provocadora de prazer mórbido que atesta
deficiência de caráter humano. Sejamos assim, indulgentes, da mesma
forma que o Criador o é sempre conosco, vendo o que temos de bom, e
sempre nos dando novas chances de acertar após nossos erros.
Reforçar
o erro de outrem é valorizar o negativo. É dar-lhe um destaque
maior do que o necessário. A indulgência é caridade, é
compreensão e perdão. O verdadeiro caráter da caridade é a
modéstia e a humildade, que consistem em ver cada um apenas
superficialmente os defeitos de outrem, e esforçar-se por fazer que
prevaleça o que nele há de bom e virtuoso. Embora o coração
humano seja um abismo de corrupção, sempre há, nalgumas de suas
dobras mais ocultas, o gérmen de bons sentimentos, centelha vivaz da
essência espiritual.
(Estudo baseado no cap. X, itens 16 a 18 do livro O evangelho segundo o Espiritismo,de Allan Kardec, ed. Feb.)
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