À
guisa de esclarecimento acerca da diversidade dos trabalhos espirituais no
Brasil, bem como de amostra da seriedade que requer o trabalho espiritual na
linha de Umbanda, acarretando a constante necessidade de vigilância por parte
dos seus trabalhadores, o guia espiritual Pai Ernesto de Moçambique foi
interpelado para dissipar as trevas da dúvida humana e iluminar o entendimento
de seus filhos:
Pergunta:
Existe alguma
diferença entre a mediunidade da mesa kardecista e a mediunidade de Umbanda?
Resposta:
Sim.
A mediunidade no chamado espiritismo de mesa é acentuadamente mental, as
comunicações são quase telepáticas, predominantemente inspirativas, isto é, os
espíritos atuam mais sobre a mente dos médiuns, pois a atividade do espiritismo
se processa mais no plano mental.
O espiritismo de
mesa não tem missão de atuar no baixo astral contra os elementos de magia
negra, como acontece com a Umbanda. Ele é quase Exclusivamente doutrinário,
mostrando aos homens o caminho a ser seguido a fim de se elevarem verticalmente
a Deus. Sua doutrina funda-se principalmente na reencarnação e na Lei de Causa
e Efeito. Abre a porta, mostra o caminho iluminado, e aconselha o homem a
percorrê-lo a fim de alcançar sua libertação dos renascimentos dolorosos em
mundos de sofrimentos, como é o nosso atualmente, candidatando-se à vivência em
mundos melhores. Em virtude disso,
a defesa do
médium kardecista reside quase exclusivamente na sua conduta moral e elevação
de sentimentos, portanto, os espíritos da mesa kardecista, após cumprirem suas
tarefas benfeitoras, devem atender outras obrigações inadiáveis.
É da tradição
espírita kardecista que os espíritos manifestem-se pelo pensamento, cabendo aos
médiuns transmitir as idéias com o seu próprio vocabulário e não as configurações
dos espíritos comunicantes. Em face do habitual cerceamento mediúnico junto às
mesas kardecistas, os espíritos têm que se limitar ao intercâmbio mais mental e
menos fenomênico; isto é, mais idéias e menos personalidades. Qualquer coação
ou advertência contrária no exercício da mediunidade reduz-lhe a passividade
mediúnica e desperta a condição anímica. Por esta razão há muito animismo na
corrente kardecista.
A faculdade
mediúnica do médium de Umbanda é muito diferente da do médium kardecista, considerando-se
que um dos principais trabalhos da Umbanda é atuar no baixo astral, submundo
das energias degradantes e fonte primária da vida. Os médiuns de Umbanda lidam
com toda a sorte de tropeços, ciladas, mistificações, magias e demandas contra
espíritos sumamente poderosos e cruéis, que manipulam as forças ocultas
negativas com sabedoria. Em conseqüência o seu desenvolvimento obedece a uma
técnica específica diferente da dos médiuns kardecistas. Para se resguardar das
vibrações e ataques das chamadas falanges negras, ele tem que valer-se dos
elementos da Natureza, como seja: banhos de ervas, perfumes, defumações,
oferendas nos diversos
reinos da
Natureza, fonte original dos Orixás, Guias e Protetores, como meios de defesa e
limpeza da aura física e psíquica, para poder estar em condições de desempenhar
a sua tarefa, sem embargo da indispensável proteção de seus Guias e Protetores
espirituais, em virtude de participarem de trabalhos mediúnicos que ferem
profundamente a ação dos espíritos das falanges negras, isto é, do mal, que os
perseguem, sempre procurando tirar uma desforra. Por isso a proteção dos filhos
de terreiro é constituída por verdadeiras tropas de choque comandadas pelos
experimentados Orixás, conhecedores das manhas e astúcias dos magos negros. Sua
atuação é permanente na crosta da Terra e vigiam atentamente os médiuns contra
investidas adversas, certos de que ainda é muito
precária a
defesa guarnecida pela elevação de pensamentos ou de conduta moral superior,
ainda bastante rara entre as melhores criaturas. Os Chefes de Legião, Falanges,
Sub-falanges, Grupamentos e Protetores também assumem pesados deveres e
responsabilidades de segurança e proteção de seus médiuns. É um compromisso de
serviço de fidelidade mútua, porém, de maior responsabilidade dos Chefes de
Terreiro.
Daí as descargas
fluídicas que se processam nos terreiros, após certos trabalhos pesados, com a
colaboração das falanges do mar e da cachoeira, defumação dos médiuns e do
ambiente e dando de beber a todos água fluidificada.
O espírito que
reencarna com o compromisso de mediunidade na Umbanda recebe no espaço, na
preparação de sua reencarnação, nos seus plexos nervosos ou chakras, um
acréscimo de energia vital eletromagnética necessária para que ele possa
suportar a pesada tarefa que irá desempenhar.
Na corrente
kardecista, isto não é necessário, em virtude de não ter que enfrentar trabalhos
de magia negra, como acontece na Umbanda; e mesmo permitir aos guias
atuarem-lhe mais fortemente nas regiões dos plexos, assumindo o domínio do
corpo físico e plastificando suas principais características. Então vemos caboclos
e pretos-velhos revelarem-se nos terreiros com linguagem deturpada para melhor
compreensão da massa humilde, assim como as crianças, encarnando suas maneiras
infantis para melhor aceitação na mesma.
Extraído do
Livro Lições de Umbanda e Quimbanda na
Palavra de um “Preto-Velho”. Autor: W.W. da Matta e Silva. Editora Ícone.
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