segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Diferença entre a mediunidade da mesa kardecista e a mediunidade de Umbanda


À guisa de esclarecimento acerca da diversidade dos trabalhos espirituais no Brasil, bem como de amostra da seriedade que requer o trabalho espiritual na linha de Umbanda, acarretando a constante necessidade de vigilância por parte dos seus trabalhadores, o guia espiritual Pai Ernesto de Moçambique foi interpelado para dissipar as trevas da dúvida humana e iluminar o entendimento de seus filhos:

Pergunta: Existe alguma diferença entre a mediunidade da mesa kardecista e a mediunidade de Umbanda?

Resposta: Sim. A mediunidade no chamado espiritismo de mesa é acentuadamente mental, as comunicações são quase telepáticas, predominantemente inspirativas, isto é, os espíritos atuam mais sobre a mente dos médiuns, pois a atividade do espiritismo se processa mais no plano mental.

O espiritismo de mesa não tem missão de atuar no baixo astral contra os elementos de magia negra, como acontece com a Umbanda. Ele é quase Exclusivamente doutrinário, mostrando aos homens o caminho a ser seguido a fim de se elevarem verticalmente a Deus. Sua doutrina funda-se principalmente na reencarnação e na Lei de Causa e Efeito. Abre a porta, mostra o caminho iluminado, e aconselha o homem a percorrê-lo a fim de alcançar sua libertação dos renascimentos dolorosos em mundos de sofrimentos, como é o nosso atualmente, candidatando-se à vivência em mundos melhores. Em virtude disso,
a defesa do médium kardecista reside quase exclusivamente na sua conduta moral e elevação de sentimentos, portanto, os espíritos da mesa kardecista, após cumprirem suas tarefas benfeitoras, devem atender outras obrigações inadiáveis.

É da tradição espírita kardecista que os espíritos manifestem-se pelo pensamento, cabendo aos médiuns transmitir as idéias com o seu próprio vocabulário e não as configurações dos espíritos comunicantes. Em face do habitual cerceamento mediúnico junto às mesas kardecistas, os espíritos têm que se limitar ao intercâmbio mais mental e menos fenomênico; isto é, mais idéias e menos personalidades. Qualquer coação ou advertência contrária no exercício da mediunidade reduz-lhe a passividade mediúnica e desperta a condição anímica. Por esta razão há muito animismo na corrente kardecista.

A faculdade mediúnica do médium de Umbanda é muito diferente da do médium kardecista, considerando-se que um dos principais trabalhos da Umbanda é atuar no baixo astral, submundo das energias degradantes e fonte primária da vida. Os médiuns de Umbanda lidam com toda a sorte de tropeços, ciladas, mistificações, magias e demandas contra espíritos sumamente poderosos e cruéis, que manipulam as forças ocultas negativas com sabedoria. Em conseqüência o seu desenvolvimento obedece a uma técnica específica diferente da dos médiuns kardecistas. Para se resguardar das vibrações e ataques das chamadas falanges negras, ele tem que valer-se dos elementos da Natureza, como seja: banhos de ervas, perfumes, defumações, oferendas nos diversos
reinos da Natureza, fonte original dos Orixás, Guias e Protetores, como meios de defesa e limpeza da aura física e psíquica, para poder estar em condições de desempenhar a sua tarefa, sem embargo da indispensável proteção de seus Guias e Protetores espirituais, em virtude de participarem de trabalhos mediúnicos que ferem profundamente a ação dos espíritos das falanges negras, isto é, do mal, que os perseguem, sempre procurando tirar uma desforra. Por isso a proteção dos filhos de terreiro é constituída por verdadeiras tropas de choque comandadas pelos experimentados Orixás, conhecedores das manhas e astúcias dos magos negros. Sua atuação é permanente na crosta da Terra e vigiam atentamente os médiuns contra investidas adversas, certos de que ainda é muito
precária a defesa guarnecida pela elevação de pensamentos ou de conduta moral superior, ainda bastante rara entre as melhores criaturas. Os Chefes de Legião, Falanges, Sub-falanges, Grupamentos e Protetores também assumem pesados deveres e responsabilidades de segurança e proteção de seus médiuns. É um compromisso de serviço de fidelidade mútua, porém, de maior responsabilidade dos Chefes de Terreiro.

Daí as descargas fluídicas que se processam nos terreiros, após certos trabalhos pesados, com a colaboração das falanges do mar e da cachoeira, defumação dos médiuns e do ambiente e dando de beber a todos água fluidificada.

O espírito que reencarna com o compromisso de mediunidade na Umbanda recebe no espaço, na preparação de sua reencarnação, nos seus plexos nervosos ou chakras, um acréscimo de energia vital eletromagnética necessária para que ele possa suportar a pesada tarefa que irá desempenhar.

Na corrente kardecista, isto não é necessário, em virtude de não ter que enfrentar trabalhos de magia negra, como acontece na Umbanda; e mesmo permitir aos guias atuarem-lhe mais fortemente nas regiões dos plexos, assumindo o domínio do corpo físico e plastificando suas principais características. Então vemos caboclos e pretos-velhos revelarem-se nos terreiros com linguagem deturpada para melhor compreensão da massa humilde, assim como as crianças, encarnando suas maneiras infantis para melhor aceitação na mesma.


Extraído do Livro Lições de Umbanda e Quimbanda na Palavra de um “Preto-Velho”. Autor: W.W. da Matta e Silva. Editora Ícone.

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