O ato de incorporar não é simples. Um espírito não “entra” em nós como
entramos em um carro. Na verdade a plena incorporação leve tempo e precisa
estabelecer outros processos anteriores. Um deles é a irradiação. O que isso
significa? É o período de tempo variável que as entidades irradiam suas
vibrações no médium, preparando seus corpos sutis para posteriores
incorporações. Nessa etapa o médium pode captar a vibração da entidade e ter
contato fluidicamente com o corpo astral da entidade. Isso dará ao médium uma
impressão de como é a entidade, como ele a sente. Ele pode nessa fase captar
muitas idéias vinda das entidades, mas pode se confundir muito com seus
próprios pensamentos. Pode sentir uma forte força o conduzindo a andar, sentar
ou manipular algo. Ele sente muitas reações corporais; suor, tremores, mãos
frias e molhadas, ou calores, falta de noção de espaço e possível visão
embasada, além de dormência, taquicardia, fraqueza nas pernas, tonteira,
torpor, dor em determinadas áreas do corpo. Esses são alguns sintomas que se
pode sentir.
Essas reações são variáveis de pessoa pra pessoa, resultado da
manipulação energética que as entidades operam em seus médiuns. Muitas vezes
desobstruindo chacras, reparando buracos na aura, além de estarem preparando as
áreas responsáveis para estabelecer futuras incorporações.
A ansiedade, medo, angustia e esclarecimento, pode dificultar essa fase,
pois é médium não se permite inconscientemente às vezes, receber de forma plena
essas irradiações e bloqueia. Mas com o tempo a entidade consegue preparar seu pupilo
para estabelecer uma conexão satisfatória para uma incorporação.
O que você pode fazer para
melhorar e captar bem as irradiações e a transição para as incorporações?
Quando o médium sentir as primeiras ações de sua entidade, é
aconselhável que tente esvaziar a mente
de pensamentos, perguntas, dúvidas e medos. Se concentre em deixar o corpo
leve, sem tensões. Ele pode ter visões nessa fase, o que pode ser imagens
lançadas ao médium pela própria entidade. E quanto mais relaxado e livre de
pensamentos ele tiver, mas vai sentir sua entidade e interagir com ela.
Ao iniciante, chega sempre um momento que é difícil distinguir o que são
suas idéias, ações das entidades ou reações dele mesmo. Uma incorporação se
estabelece quando o médium perde parcial ou total força sob seu corpo e este
passa a ser dirigido por uma força estranha a ele. O médium não comanda o seu
corpo, e se tentar sentar, caminhar, agir normalmente não irá conseguir. Uma
coisa meio que incoerente que muitos textos passam é que a consciência ou
inconsciência está atrelada a domínio do corpo físico. Mas uma coisa não se
relaciona com outra. Na prática podemos verificar isso. Porque a maioria
dessas literaturas que abordam mais este assunto, são literaturas de origem
espíritas. Mas devemos colocar que a dinâmica das manifestações mediúnicas nos
centros espíritas, são um tanto diferentes das manifestações dos guias
espirituais de religiões afro-ameríndias. O grande contingente de ações
mediúnicas nos CEs é de espíritos obsessores e sofredores para receberem
orientações e doutrinação. Ou seja, a natureza do espírito é completamente
diferente e as manifestações ocorrem via mental, sem que o espírito tome o
controle corporal do médium. Porém as
entidades, de natureza diferente de espíritos de baixa vibração, agem em nosso
corpo e centros de força, estabelecendo a incorporação de fato. O que
somente pode ocorrer vinda de espíritos inferiores quando se estabelece uma
possessão, porém este é um caso atípico de médiuns descontrolados e em
processos graves de obsessão e não num médium equilibrado, já apto a exercer
sua função num centro espírita.
Ou seja, a natureza mediúnica nas duas searas é diferente.
Quando o médium de umbanda perder o controle de seu corpo, e perceber
uma força o conduzindo de forma equilibrada, controlada e ordenada, a entidade
estabeleceu uma excelente sintonia com o médium. Dentro desse panorama, a
entidade pode demorar um pouco pra falar, mas não é via de regra. O médium vai
perceber que as idéias lhe chegam e são pronunciadas de forma rápida, sem que
fique perdido em pensamento e reflexões para depois falar. A fala da entidade é direta. Muitas vezes no inicio, as palavras
podem passar pelo mental do médium antes de serem ditas, mas com o tempo, isso
torna-se praticamente automático. E muitas vezes vocês vão passar pela situação
de pensar uma coisa e da sua boca, sair outra completamente diferente. É a
entidade que está no controle e não você.
Voltando a questão de inconsciência
x controle do corpo. Como falei, alguns escritores alegam que o médium
somente perde o controle de seu corpo, quando ficam inconscientes. Mas na
prática vemos que isso não procede. O
médium pode perder completamente o domínio de seu corpo e ser tomado pela
entidade e estar perfeitamente consciente, vendo e ouvindo tudo. O que
ocorre é uma perda de noção tempo-espaço, além da sensibilidade corporal que se
altera. Dentro de um escala pra mais ou pra menos, respeitando obviamente as
leis da física e materiais, o médium fica mais resistente ao calor e ao frio,
assim como suas necessidades fisiológicas ficam alteradas. Ele pode passar
muitas horas sem ir ao banheiro, sentir fome, ou cansaço. Pois não somente seu
sistema metabólico como outros sistemas se altera. Mas qualquer desarranjo ou
desconforto corporal que o médium esteja sentindo pode afetar e atrapalhar. Por
isso é tão importante cuidar do corpo, alimentação e fazer os resguardos para
que tudo esteja equilibrado para que a entidade tenha um “aparelho”
satisfatório para trabalhar. Pois água limpa em copo sujo, jamais será de boa
qualidade para o consumo. Limitações físicas e descuidos podem comprometer o
nível e intensidade do domínio da entidade em seu médium, ou seja, na
incorporação. Médiuns em idade avançada,
as manifestações são simplesmente mentais, pela fragilidade do corpo
físico.
Como vocês podem perceber o nosso corpo é exigido
nos processos de incorporação. E nós somos responsáveis por estar cuidando para
sermos bons e viáveis veículos para nossos guias. Então não dependem somente
delas, mas de nós também, pois quanto mais disciplina e prática tiverem, mais
firmes será suas atividades no terreiro. E todos só têm a ganhar com isso;
entidade, médiuns, terreiro, irmãos da corrente, assistentes e a nossa
Umbanda.
Texto de Ana Araujo, disponível em:
http://casadecatarina123.blogspot.com.br/
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