terça-feira, 19 de maio de 2015

Animismo , incorporação e mistificação


Temas sempre bem vindos ao se falar sobre manifestações mediúnicas na Umbanda. O temor creio que da maioria dos médiuns é justamente o fato de “tudo” ser fruto de sua cabeça e imaginação e não uma manifestação genuína de uma entidade. Claro, falo isso dos médiuns sérios e comprometidos com um exercício fiel e honesto de suas faculdades e não aos vaidosos e mal intencionados que tem aos montes por aí. Geralmente estes têm em mente duas coisas; APARECER, OU, GANHAR A VIDA À CUSTA DA FÉ ALHEIA. 
A questão do animismo é um assunto muito vasto, onde podemos ir por vários caminhos, mas a princípio trataremos de sua forma mais simples e mais comum nos terreiros. Guardem este texto, pois trarei mais para frente, um teor mais aprofundado de animismo, e esta matéria, será de grande ajuda para entender o aspecto mais profundo do assunto central. 

O que é animismo?

Em seu aspecto primário, é a manifestação da psique do médium em vez de sua entidade. É quando ele passa a frente da entidade e fala e age como se fosse a entidade. Porém esse processo é inconsciente e o médium não sabe que as palavras ou as ações são dele mesmo e não de sua entidade. 

O que é mistificação?

Diferente do animismo, a mistificação é a ação consciente do médium, que sabe não estar sob influência da entidade, mas age como se estivesse. É o clássico charlatanismo. 
Muitas pessoas confundem o animismo com a mistificação, mas são coisas distintas. 

Incorporação x psicofonia

Já a incorporação é o processo mediúnico onde a entidade tem domínio do médium e age em seus centros nervosos e motores e tem uma liberdade de ação e “voz” que ultrapassa a vontade e mental do médium. 
Porém o termo incorporação é usado popularmente pra qualquer tipo de mediunidade onde a entidade “fale” através de um médium. Mas existem diferenças nesses processos. Foram criador vários nomes como mediunidade intuitiva, incorporação por intuição, incorporação consciente, etc. Mas para simplificar eu costumo dividir em 2 tipos apenas: a incorporação e a psicofonia. Na psicofonia não há o domínio físico do médium e a manifestação da entidade se dá por um processo mental somente. Esse tipo de mediunismo é o recorrente em casas espíritas, pois o médium precisa estar à frente sempre do espírito comunicante, pois este, na maioria das vezes, é de natureza negativa, perturbada e carente de ajuda e orientação. Logo, ele não pode ocupar o “comando” de centros físico do médium. Há a proximidade do espírito e o médium capta de seu psicossoma sua energia, natureza e como um diálogo de mente pra mente, o médium transmite o que o espírito está falando para ele. 
Já nos terreiros de Umbanda a natureza dos espíritos comunicantes é outra, e estes agem em nosso corpo através das irradiações para nosso equilíbrio e sintonia mediúnica e espiritual e nosso corpo reage com sensações e movimentos involuntários, já que a entidade vai tomando conta de nossa matéria. Esse acoplamento por assim dizer, não ocorre de um dia para o outro. É claro que o tempo é relativo de pessoa para pessoa, mas se a capacidade existe no “aparelho”, as entidades irão trabalhá-la para que esteja tudo em harmonia para que a entidade possa de fato incorporar de fato. 
Porém nem todos os médiuns que estão na Umbanda como médiuns de incorporação, fornece esse tipo de mediunidade, não tendo abertura em sua organização em seu corpo astral e centros de força para estabelecer a incorporação propriamente dita, onde a entidade tem controle e domínio do médium, ficando muito próximo das manifestações das casas espíritas, com o diferencial grande, onde o médium na Umbanda também pode sentir sensações em seu corpo, perder um pouco da noção de espaço e tempo e confundir com uma incorporação clássica, mas a entidade não tem domínio corporal e a comunicação se dá mentalmente somente sem que haja o acoplamento entre ambos.
É como um processo de telepatia; a entidade transmite as mensagens ao mental do médium, e este externa as mensagens. Mas por que é tão parecido com a incorporação? Porque as entidades também agem sobre o corpo espiritual do médium para promover descargas, harmonizações e equilíbrios em seus centros de força (chackras), como também, todo médium seja de incorporação ou psicofônico tem a capacidade de captar a energia dos espíritos que estejam muito próximos de si, seja suas entidades ou do médium do lado. Com o passar do tempo, essa percepção é ampliada e aprimorada e ele consegue distinguir seus guias e de seus irmãos de corrente. Consegue saber se é uma entidade masculina ou feminidade, de que linha é, etc. Consegue com o tempo “ler “ a natureza daquele espírito e pode dessa leitura imaginar como é tal entidade, se séria, sisuda, ou alegre, risonha, brincalhona, direta, ou é cheia de ternura pra falar, etc. Mesmo que ele não consiga ver a entidade, pela proximidade, nós conseguimos perceber essas características que emana naturalmente dos espíritos. E dessa leitura, é que nós formamos a entidade em nosso mental e exteriorizamos comportamentos e formas de falar, trejeitos e posturas, isso para os psicofônicos. Em ambos os casos, há o transe provocado pela irradiação da entidade e pela força motriz do todo que provoca um estado hipnótico no médium, o conduzindo ao transe, e do transe a manifestação propriamente dita de sua faculdade mediúnica. 
O grande problema do médium psicofônico, ou seja, aquele onde a entidade atua somente através do mental, e do que a entidade diz a ele, é a capacidade de DISCERNIMENTO, pois nem sempre as mensagens que a entidade transmite é o que ele entende para repassar. Outro problema é de ordem íntima e psíquica. Nas religiões afro-brasileiras as entidades transmitem e formamos arquétipos de grupos raciais e sociais. E muitos desses tipos “humanos” mexem muito com a vaidade, fantasias, e desejos reprimidos de nós mesmos.
Quando um indivíduo está em transe, seu psiquismo e parte espiritual inconsciente ficam muito mais expostos também e aflorado, somando isso a ideia que fazemos de tal entidade e da leitura que fazemos dela, podemos exteriorizar partes nossas, do nosso inconsciente e traços de personalidade reprimida que se identifica com tal “arquétipo”, digamos assim de X entidade. Esse processo pode até fazer parte de uma catarse emocional e psicológica, salutar para o médium, de uma série de repressões em seu íntimo que o transe libera provocando um bem estar íntimo e profundo, paz consigo mesmo, que ele não sabe exatamente o porquê. Porém esse tipo de eventos somente pode ocorrer no início de um desenvolvimento e não existir dentro da vida mediúnica do médium durante todo o seu tempo de labor.
É justamente por isso tão importante o desenvolvimento, e não liberar os médiuns em desenvolvimento para consultas sem um aval do guia chefe da casa, ou da análise do dirigente. Mesmo que a entidade fala, dance e tenha desenvoltura e APARENTE firmeza, somente com uma avaliação do conjunto das manifestações daquele médium, e que ele poderá estar apto pra atender o público. Mas muitos médiuns são recebem esse tipo de avaliação e são postos logo para o atendimento e consultas e muitas vezes até, para satisfazer a ansiedade e vontade do médium de ir logo pras consultas. Ai mora o grande perigo! Pois os médiuns psicofônicos precisam e exaustivo treinamento e desenvolvimento para garantir a manifestação do pensar da própria entidade e não somada a suas impressões, julgamentos e ideias.
Mas a realidade que percebemos nos terreiros, é um “desleixo” de um bom e capacitado desenvolvimento mediúnico, muitas vezes mal feito e mal conduzido, e dá no que dá.... shows de animismos onde todos são enganados; médiuns e assistentes. Há misturas entre entidade e o próprio médium e este acaba por se atrapalhar em seus próprios pensamentos mesclados da entidade e não sabe o que é seu ou não. O vaidoso e auto-suficiente não questiona, pois se acha “o cara” e não pára pra refletir suas ações estando sob a influência das entidades. Creditam cada palavra e cada ação nelas, ficam fascinados e não ouvem muitas vezes, seu dirigente e as entidades responsáveis por ele, pois não admitem que podem estar errando e precisando de mais desenvolvimento e conselhos dos mais velhos. E mesmo quando a entidade se porta com rebeldia, falta de educação e sem a postura digna de uma entidade de fato, ele dá desculpas e alega que é a casa que não é do agrado da entidade. Será mesmo? Cuidado! Muitas vezes é isso que provoca médiuns a abandonarem casas sérias e buscar a facilidade e casas pouco comprometidas com um sério e comprometido desenvolvimento e manifestações de suas entidades. É o “coloca a roupa e vai pra roda girar”. E daqui a pouco tá atendendo com as entidades e pensa; “tá vendo! Era aquela casa que não reconhecia meus ‘dons’ mediúnicos”. Ledo engano!
Já para os médiuns de incorporação – cada vez mais raros hoje em dia – este problema não é tão recorrente, pois ele oferece a entidade maior domínio e pode assim, agir mais livremente por sua conta sem precisar que o médium seja seu intérprete para o plano exterior. Lembrando que a entidade pode “dosar” a intensidade desse domínio e o faz sempre. Ela pode ir de um nível mais elevado a um nível mais brando, ou se for do seu querer, agir somente através da transmissão de pensamento, como na psicofonia. Já que o controle total do médium demanda muito desgaste par a o médium, e muitas vezes em certos trabalhos, momentos de uma gira não há essa necessidade e as entidades usam de sabedoria e mestria para não desgastar desnecessariamente seu “cavalo”.
Vale ressaltar, talvez em negrito, que a consciência (o lembrar e ver tudo por parte do médium estando com a entidade) não está relativo a domínio ou não da entidade. Embora em estados mais profundos de incorporação, pode não haver consciência mediúnica ou parcial, isso não é via de regra. Muitos podem estar sob o domínio da entidade e ver tudo a sua volta, como se estivesse assistindo um filme. 
Uma dica: deixe ser levado literalmente pela entidade. Não pense, não questione, jogue a ansiedade e observação de lado e deixe ser levado nos primeiros sinais de irradiação da entidade. Livre-se do medo e vá! Estando com a entidade, não promova diálogos em sua mente, pois é ai que tudo pode se confundir. A voz da entidade é sempre a primeira, é o ímpeto, a voz rápida e fala de primeira. Não fique buscando respostas e ações das entidades para as pessoas. Muitas vezes, ela não tem nada pra falar e só veio trabalhar energeticamente pra você ou pro ambiente, pro grupo, ou pra alguém.
Não se envolva e deixa-a livre para falar ou não. Muitos médiuns na ânsia de se afirmar como médiuns firmes, querem que suas entidades revelem segredos, digam sobre a vida, o passado, presente e futuro das pessoas, e isso é um dos fatores que mais atrapalha. A vaidade de ser um médium bem conceituado, que tem as entidade mais firmes, que ajudam as pessoas, que promovem curas, revelações, estripulias de desafiam as leis da física, é o abismo do médium. É onde ele cai e cai feio. Fica a dica e o alerta. 

Texto de Ana Araujo, disponível em:

http://casadecatarina123.blogspot.com.br/

Nenhum comentário:

Postar um comentário